Finalmente sinto que tudo está de volta ao seu lugar... parece que consegui finalmente arrumar as prateleiras vazias, e encaixotar tudo o que andava solto por aqui. A minha cabeça parece finalmente ter deixado a greve e está novamente a trabalhar a tempo inteiro, apesar de ainda se queixar de vez em quando... Sabe bem voltar a sentir-me completamente funcional sem fugas de pensamento e perdas de informação constantes... Volto a conseguir apreciar os dias e as pequenas coisas que me dão um gozo tremendo... voltei a ler o jornal, ainda não fui ao jardim...

Sinto que perdi alguma prática social, às vezes dou por mim completamente perdida na noite, entre as pessoas, sem saber se devo ser eu ou não, porque posso incomodar muito ou agradar muito, e a verdade é que o muito não o quero nem numa coisa nem noutra agora... não quero definir nada, não espero nada em especial, será que já não se pode só falar? Só ter uma conversa interessante, durante horas, pela noite dentro, em que nem damos conta do frio, da fome, ou do tempo? Não podemos só passear e dar umas gargalhadas e ir para casa com um sorriso, sem nenhum compromisso... será que todas as conversas têm agora contingências subliminares e eu não sei ler as entrelinhas?... às vezes juro que não percebo.

I miss the words... the incomplete conversations... the smiles...

Psicologia?!

Hoje tive aula de psicopatologia, sem duvida a melhor aula da semana... porquê? Porque somos confrontados com os sintomas das doenças, como fazer diagnóstico diferencial, as comorbilidades com diferentes patologias, qual o melhor tipo de tratamento, quando se deve optar pela via farmacológica ou de psicoterapia... enfim, situações reais e como agir na prática, o que no nosso curso é um docinho... sim porque reforçando a metáfora, nós passamos o tempo a dieta nas outras disciplinas, consumindo tudo o que há de teorias e restando muito pouco de exemplos práticos... Sim senhores professores, já percebemos que primeiro temos de constituir uma boa base sólida de conhecimento das diferentes correntes teóricas, para só depois podermos passar para os pacientes, e concordo perfeitamente, mas nem queríamos tanto!! Quando dizemos que precisamos mais prática no curso não falamos de começar a intervir com pessoas, mas já ajudava uns role play de vez em quando, e que tal quando dizemos, "ah aqui trabalha-se o que o paciente precisar", dar exemplos claros do género: se se enquadra no quadro psicótico começamos por trabalhar isto e depois aquilo, se temos uma pessoa com quadro depressivo, que apresenta ideação autolitica devemos proceder desta forma... e não andarmos todos aqui a pensar em abstracto e quando me dedico de facto a pensar sobre o que sei na realidade sobre estratégias interventivas até tremo... até na cadeira em que era suposto darmos "Modelos e Métodos de Intervenção na Psicologia", na verdade o titulo desta cadeira deveria ser, uma breve introdução às teorias que constituem os modelos de intervenção que talvez um dia vocês percebam como se utilizam de facto!!! A sério, este é o ultimo ano da licenciatura, e sinto que ando a bater nas mesmas teclas dos passados anos, sim senhores professores já demos isso... e outras que damos agora, meu Deus, nem vou começar a falar do mundo mágico em que entramos nalgumas disciplinas em que nos é dito que tudo é possível... qualquer dia entro numa espiral psicótica, chumbo no teste de realidade e deixo-me estar no mundo fantástico da esquizofrenia e como a Amy W. grito que não vou pra "rehab"...

Really, sometimes I think I'm losing it..

Recordar

Há pequenas coisas com que nos deparamos no nosso dia a dia, seja na televisão, num jornal, nalguma página da Internet... enfim em qualquer lado, que mexem mesmo connosco, porque nos remetem para um momento decisivo na nossa vida, ou porque nos fazem recordar daquilo que éramos ou aquilo que fazíamos... quando éramos mais novos. Esta semana tive vários momentos desses, que me fizeram querer escrever, foi pena não poder fazê-lo na hora, pois muita dessa inspiração perdeu-se no frio acompanhado pelo vento... li antigos escritores, que me fizeram ter vontade de ser poeta outra vez... tive vontade de dançar outra vez, como se fosse necessário à minha vida, tive vontade de correr sem saber onde parar, de sair à rua só porque sim, de ir ao teatro e ouvir música de rua, de me enfiar num museu e andar anos para trás no tempo... tive vontade de passar dias a ler e dias só a pensar enquanto ouvia a chuva... e com sorte, enquanto ouvia a neve... porque tudo isto me inspirou, aqui deixo uns versos meus, de uma história imaginada...

O frio e a neve tomaram conta do corpo enregelado

E nele congelaram também o coração,

Pois assim nem o presente nem o passado,

Poderiam reacender a renegada paixão

E assim numa apatia dolorosa

A donzela escondia-se no seu rosto imperturbável

Que delicia seus observadores de forma insidiosa

Ocultando em seus olhos uma dor inigualável

Mas esta mulher altiva e sedutora

Aprisiona os bajuladores inebriados,

Que numa corte deleitosa e exacerbada

Acabam irremediavelmente apaixonados...

A donzela insatisfeita com seus pretendentes

Retorna ao seus aposentos resguardados

Desprezando esses desejos prementes

De homens frívolos e desconsolados...