terça-feira, 2 de outubro de 2012

Porque algumas coisas não se explicam...

Às vezes ponho-me a pensar porque não falo de ti, porque é que cada vez que penso em falar estremeço um bocadinho e guardo para mim como se fosse um segredo. Não sei porquê, mas há uma parte de mim que me diz que não tenho o direito de falar de ti, um sensor que acende uma luz vermelha sempre que me vens à memória ou à beirinha dos lábios... algumas vezes contrario esse sinal e falo na mesma, e digo as coisas boas de que me lembro, e com elas vem o nó na barriga e o brilho nos olhos... e ninguém percebe porque é que isso me acontece, porque é que se me sinto assim, não estou com essa pessoa que me acende um brilho nos olhos e me faz sentir um aperto de saudade... e depois eu lá digo por meias palavras que já acabou, que a culpa é minha e que fiz qualquer coisa, ou que não é assim tão simples, e depois lá me apercebo que não tenho boas desculpas ou bons argumentos e é por isso que não falo de ti... sinto tantas vezes que não tenho direito de falar do que me deste, do que me fizeste sentir, de como me tratavas de forma única e especial, de como era fantástico passar horas a falar contigo, de como eras inteligente e culto, diferente de toda a gente, de como me compreendias e ouvias quando eu já não me conseguia ouvir, e quanto mais penso nisto tudo mais me apercebo que me faltam as razões para me manter longe de ti... como é que se explica porque se abdicou de tudo isto?... a explicação que me faz mais sentido, e que me surge instantaneamente quando penso em dar a volta à questão e dar-me ao luxo de pensar o "e se eu...", é a imagem que tenho de ti a sofrer por causa de mim, é o sofrimento que vi nos teus olhos e causei na tua vida... Não te esqueço, estás constantemente a surgir na minha cabeça, nos meus sonhos e nos meus dias, sempre esperei que o tempo te levasse, e me levasse pra longe de ti também, porque a minha inconstância e as minhas inseguranças já fizeram a sua passagem devastadora no teu mundo, mais do que uma vez... o que se pode prometer quanto se teme uma tragédia eminente?!... Eu aprendi a viver com este sentimento, a racionalizar tudo e o resultado da sequência lógica é de que esta é a decisão certa a tomar, porque faz sentido, porque é o que tu mereces que eu faça... porque não interessa o que eu quero, porque se por um lado no resto da minha vida os meus objectivos estão bem traçados e sigo-os até ao fim sem hesitar, no que diz respeito a ti, estou constantemente a repensar-te, a imaginar o que aconteceria se eu fizesse isto ou aquilo, e se eu te dissesse, e se e se... sei que estou a quebrar o que te disse, sei que prometi cortar com tudo, não te dizer mais nada e deixar-te ir... mas há muito que esta nossa distância me mói e me perturba, e eu continuo no mesmo limbo sentimental sem certezas, e cheio de areias movediças... mas uma coisa eu sei, tu és a única constante que nele existe, o único pedaço nesse globo enublado que não se moveu. E mesmo que nada disto importe, ou mude o que quer que seja, acho que deverias saber o quanto significas e que sempre te mantiveste presente.

Porque há coisas que não se explicam... e os sentimentos, são a maior parte delas.

J.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Perigo público - Insanidade

O post anterior parece ter ganho toda uma outra dimensão agora... as desilusões sucedem-se e eu sinto-me cansada por lutar contra a maré. A sinceridade parece cada vez mais ultrapassada e meaningless, as amizades que julgava sólidas parecem agora tecidos esfarrapados a esvoaçar no estendal, e dou por mim a pensar se os trago para dentro novamente, ou os deixo voar para longe, onde o desgosto não chega e o coração não sente... não entendo como é que as pessoas deixam suposições e inferências mal fundamentadas, sabotar uma amizade, e nem tentam perceber qual é a verdade... e assim, anos de bons momentos são substituídos rapidamente por novos "moveis" pré-construídos, afinal é preciso actualizar-se e este modo é mais rápido e prático! E não é para isso que temos de estar preparados? A contemporaneidade implica uma enorme capacidade de adaptabilidade, é preciso ser rápido e eficaz e há uma constante procura da satisfação imediata de prazeres, o egoísmo é disfarçado pela necessidade de vencer na vida e "vale tudo" e temos de "fazer pela vida" passando por cima de quem quer que seja (pelo menos é o que nos dizem)! O marketing responde a isso mesmo, diz-nos o que queremos, o que precisamos, o que é melhor para nós, sempre a bajular o ego inflamado, e as pessoas agem em conformidade, na vida delas e na interacção com os outros, deixando-se levar pelo prazer imediato de um momento, e pensando nas consequências dos seus actos depois, ou  não pensando de todo, afinal "a vida são dois dias" e esta desculpa fica sempre bem para fazermos asneira, e depois atirar a areia pra baixo do tapete e seguir em frente.

Há outra coisa que acho muito engraçado, é a questão das pessoas acharem que sabem o que nós sentimos, e presumirem aquilo que queremos, depois falam para quem não devem, e está a tenda montada! Ninguém percebe de facto o que realmente vai dentro de nós, no meu caso muitas vezes nem eu percebo... e acho um espectáculo quando reparo que os outros acham que sabem mais que eu, falam daquilo que eu quero e que sinto como se fosse um dado adquirido!! Os meus sentimentos a mim pertencem, são um emaranhado de memórias, angústias e tristezas, entre outras emoções lancinantes que de vez em quando me atacam sem esperar... e no meio das minhas inseguranças, afasto-me muitas vezes daqueles que gosto, para não os magoar com as minhas acções, mas realmente essa atitude é difícil de compreender, tendo em conta que cada vez mais as pessoas agem sem pensar minimamente no impacto que isso tem nos outros, desde que as satisfaça momentaneamente.


Há uma clara crise de valores, uma inflação no egoísmo e uma descida exponencial na qualidade das relações humanas... pra estes problemas é que devia haver medidas de contenção, caso contrário a insanidade mental passa a regra e começa tudo a matar-se uns aos outros.

J.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

As Pessoas.

As pessoas têm-me surpreendido bastante... nem sempre pela positiva claro, às vezes nem pela negativa, apenas fazem algo diferente e inesperado... às vezes acho que não percebo nada de pessoas, que não as compreendo de todo e que não sou como elas - outras vezes, acho-as profundamente previsíveis, aborrecidas e repetitivas, e algumas... simplesmente desinteressantes. Há ainda aquelas que são surpreendentemente voláteis, ou apenas capazes de coisas nas quais ainda não nos tínhamos demorado a pensar. Passamos anos a achar que conhecemos alguém, no entanto, não precisamos de ir muito longe para ouvir uma opinião dessa pessoa completamente oposta àquilo que sempre acreditámos... a questão é,: haverá, efectivamente, uma versão correcta dos factos? não será a pessoa um conjunto de tudo isso? do bom e do terrível? Mas e se aceitarmos isto como verdade, estamos dispostos a aceitá-lo de facto? Que o nosso amigo, diante de nós, é a pessoa boa, e a terrível de uma mesma história?? 
O problema é que os contos de fadas sempre nos distinguiram claramente o bom e o mau da fita, sempre fizeram um óptimo papel a colocar-nos do lado do herói e contra o abominável inimigo. Mas e quando os dois habitam no mesmo ser, por qual torcemos?? A razão porque temos amigos, é porque conseguimos ver sempre a prevalência do bem, sobre o mal... mas por vezes, mesmo essa visão é posta em perspectiva.... quando nos sentimos de alguma forma traídos, enganados ou ludibriados por alguém em quem confiamos... mas em ultima instância, esses conceitos não passam disso, de conceitos... a traição e o engano dependem dos olhos de quem vê, das interpretações de quem sente, e das intenções que tantas vezes ficam por dizer... então chego por vezes à conclusão, que esse caminho a nada me leva, a realidade é uma ilusão presa no foco dos nossos olhos, que nos mostra o que queremos ver, e por vezes os nossos ouvidos indicam outra direcção.. enquanto o coração, esse trai-nos há menor hesitação, disparando desafogadamente no momento mais indesejado...
Desiludem-me as pessoas, desilude-me a falta de coragem e de sinceridade, a fácil entrega a caminhos encantados, a mentira branca na ponta da língua, que não sei se é pra eles se para mim... desilude-me também a minha compassividade com tudo isto, as minhas falhas perante o que eu própria defendo, mas quando isso acontece, volto atrás e começo de novo... Cansam-me as pessoas enquanto me surpreendem... ora com incongruências, ora com desafiantes afirmações, que lá ressaltam no meio de uma torrente de gente, que corre para o seu fim, sem saber para onde vai. 

Às vezes, juro que penso mesmo que não sei nada de pessoas, porque nunca são aquilo que esperamos delas... nunca.

J.

sábado, 12 de maio de 2012

A pensar em tudo um pouco e num pouco de nada!

Ai estes dias de impotência que mal me fazem... atiram-me para as ruas dos pensamentos dúbios, das hipóteses obtusas, das irracionalidades categóricas, de todas aquelas emoções sem sentido, às quais tentamos por rédeas quando nada mais nos resta... ai esta melancolia que passa a frenesim em segundos, nesta minha inconstância de estar sem estar, e de querer sem poder... como queria esmiuçar esta pessoa e aquela, e perceber se ela me queria dizer isto ou aquilo, perceber se ela tem alguma coisa dentro ou não passa de uma grande carapaça decorada por fora... como queria ter mais tempo para observar tudo, para dizer tudo, para perguntar tudo o que queria. para questionar sem me limitar a pensar que talvez esteja a demonstrar mais do que quero... que às tantas aquela pessoa até é mais do que aquilo que imagino, ou que a outra é menos e simplesmente nunca se chegou a partir aquela figura idealizada, que teve a sorte de nascer num belo efeito de primazia que não se quebrou... e como é que às vezes as pessoas nos parecem tão básicas e previsíveis e outras, nos surpreendem por completo, nos deixam ali entre a esquina e a cortada sem saber sequer que caminho queríamos seguir, e se as queremos ou não seguir...
A contemporaneidade é um sítio estranho para se estar, a moda assusta-me, a musica por vezes também... e parece haver um certo conformismo alheado a tudo o que há de mais negativo e menos interessante, e até face ao mais interessante e trabalhoso, no primeiro caso a política e a economia, que descambam facilmente em comentários absurdos desinformados mas criticistas, e no segundo caso "interessante e trabalhoso" temos a literatura e as artes, cada vez mais desprezados mas mantidos um boa conta numa espécie de casaco de peles abominável, mas que fica sempre bem ter no armário... às vezes não me entendo por aqui, entre os falsos moralismos e os constantes julgamentos de valor, por pessoas incongruentes e moralmente esvaziadas de qualquer ideal ou crença própria, que não aquela apregoada em redor... sinto-me estranha nesta pele estupidamente transparente, e num corpo óbvio e desbocado, e vejo a minha tão apregoada trapalhice com as coisas, ir contra as pessoas, num atabalhoado discurso, que me parece completamente fora desta realidade... porque afinal parece que já não há pessoas assim, então o que sou eu? Alguma peça de museu que ficou caída numa qualquer sala de exposições desmantelada?!

A pensar em tudo um pouco e num pouco de nada!

J.

terça-feira, 17 de abril de 2012

AHH... gritos.. e desabafos!


Ai que vontade de gritar, que irritação que se agarra a mim e me percorre as entranhas, me afogueia as ventas e me dá vontade de explodir em mil pedacinhos esvoaçantes e esquartejantes que gostava de poder direccionar todos para um só local... que direito tens tu, ó alma penada, de vir novamente desequilibrar o que outrora destroçaste, que direito tens tu de andar pra cá e para lá a fingir que ainda existes, como uma assombração que não está de facto, mas incomoda e perturba pela simples hipótese da sua real existência?! Porque não posso eu expulsar estes demónios e os outros que me pesam na vida, e atrasam o curso das coisas, porque não posso eu quebrar os grilhões de injustiças que há muito deixaram de fazer perguntas acerca de quem arrastar na sua procissão de espécimes diversos, que nada têm em comum, senão o triste fado que acolheram. Que desespero este que se instala em mim, que, prisioneira amordaçada, pouco mais posso fazer do que soltar uns gemidos abafados, e espernear violentamente numa tentativa vã de lutar contra algo ou alguém que nem sei se conheço... é sempre mais difícil sentir raiva de um inimigo sem rosto, e por isso, inevitavelmente, por vezes o sentimento de culpa acaba por cair sobre nós... por pensarmos tais atrocidades que nos deixariam pasmos... não fosse o nosso intimo, confessar-nos baixinho, de que nós temos razão...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Mundo sem máscaras


Há dias, em que se acorda com uma energia vibrante a pulsar-nos no corpo, parecemos capazes de tudo, terminamos as tarefas inacabadas, iniciamos duas ou três novas e até nos livros as letras que nos passam pelos olhos velozmente, entram por nós adentro com uma clareza cristalina como água de nascente... tudo faz sentido e há uma certa paz interior que se nos instala.. há dias em que sinto que entendo o que se passa comigo e com os outros, o que me inquieta, o que me espera, o que quero e o que não quero... em que me leio num ficheiro imaginário, devidamente organizado e com um protocolo impecável, sem margem para dúvidas ou equívocos, onde está escrito o que fazer em caso de perigo, de paixão, de ansiedade, ou de tristeza, e teoricamente parece resultar bastante bem... e depois tudo vem por aí abaixo e estilhaça-se essa visão racional e idealista duma vida com sentido, surgem-nos situações que não constam nas hipóteses, sentimentos inesperados, sensações intensas, e fico alterada, sinto o corpo dormente, fico sem saber se estou triste se contente, e dá-me vontade de chorar sem saber porquê ou para quê... eu sei que tudo tem de ser assim agora, sei que há coisas inalteráveis que me perturbam mas com as quais tenho de viver, e também sei que as pessoas não são o que queremos que sejam, nem nos vêem como nós pensamos, ou como queremos, e não nos dizem nem metade do que querem dizer... há dias em que queria poder dizer tudo, e saber tudo, sem estar preocupada com constrangimentos sociais, com os incómodos, com as indelicadezas, ou com os outros... em que queria ser simplesmente EU, sem pudor, em que podia perguntar o que queria e pedir que me dissessem tudo, o bom e o mau, porque cansa este constante entra e sai num cenário fictício, com personagens irrisórias, umas com máscaras outras sem elas, outras sem nada, a deambularem como espectros ocos ao gosto da multidão... queria ver quem está por baixo da máscara, quem tem coragem de dar a cara, de gritar e afirmar: eu sou assim, como me vês, e estou aqui... e quando nos apaixonássemos tudo seria mais simples, porque nesse momento estávamos nus, e o que víamos era a mais pura das verdades, e nem o tempo, nem a sociedade poderiam deteriorar um amor que nascesse assim, onde não haveria a mentira ou a desilusão da descoberta de que o ser amado, não passava de uma máscara bonita, sem nada dentro.

Looking for the truth..

Who are you anyway? :)

J.

(A foto pertence a Helmut Steiner Photography e foi retirada de http://blog.shl.at/2011/11/23/lovers/)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Saudade..

Há dias em que bate uma tristeza, uma saudade do que um dia tivemos, do que um dia vivemos.. das pessoas, dos momentos, das pequenas coisas que nunca mais voltam, e a nostalgia dos momentos apodera-se de nós... o corpo dormente, o pensamento distante, e um mundo de memórias e histórias que nunca mais iremos viver.. revejo-as na minha mente vezes sem conta, como álbuns de fotografias gastos com o tempo, com medo de me esquecer, às vezes, tenho muito medo de me esquecer, há dias em que tenho dificuldades em rever o teu rosto... depois recordo as nossas discussões, os nossos cházinhos e passeios, e de repente estás aqui outra vez, a abraçar-me, e eu sou uma criança novamente, refilona como sempre, e tu dizes-me que vai correr tudo bem... e eu acredito...

A saudade é uma força poderosa que provoca um sofrimento indescritível... mas que por vezes me dá uma estranha sensação de felicidade, por saber que um dia vivenciei algo tão especial e tive alguém tão importante na minha vida, que me ensinou tanto...





J.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Bagagem Emocional...

"Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar."

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'


Uma vez li um texto deste autor, e senti-o pousar em mim como uma pluma, que me servia como se tivesse sido desenhada para mim, falava de luto, de perdas e de memórias, e diz-nos que quando um amor acaba é necessário fazer o luto, e que nos podem dizer para distrair a cabeça, para não pensar mais nisso, para arranjar outro, para seguir em frente... mas a verdade é que nada se ultrapassa sem que se enfrente essa dor primeiro, e sem paninhos quentes ou meias verdades, é preciso ficar triste, chorar se preciso, e aceitar a dor da saudade que fica, porque se não há saudade não havia amor, e se não se sente a saudade havendo amor é porque ainda não tomámos consciência da distância que nos separa... Sabido isto, temos que guardar o bom, saborear o que ficou de melhor... e tentar deixar o mau numa caixinha cerrada da arrecadação, e ficar com aquelas lições que as partes más nos deixaram, colocar em post its bem reluzentes para não esquecermos, para não voltarmos a cometer os mesmos erros... mas se há coisa que me convenci nestes dias é que temos de saber cortar as amarras, não podemos dizer que esquecemos o passado, que está ultrapassado, mas irmos deixando uma pedrinha aqui e outra ali para encontrar o caminho de volta... Não é assim que funciona, sempre me orgulhei de ser uma realista, por vezes passo por fria e calculista, mas a verdade é que sou prática e tento ser o mais racional possível, e a verdade é que quando não nos conseguimos decidir acerca do que sentimos e as dúvidas permanecem durante demasiado tempo, deixam de ser dúvidas, e se calhar, estamos simplesmente a procrastinar uma decisão que já deveríamos ter tomado, mas não nos chegou a coragem para tal... Numa onda de arrumações, e depois de tanto ler sobre bagagem emocional, decidi arrumar a minha, colocando cada pessoa no seu devido lugar, mas ainda assim, há sempre aquelas que teimam em não encaixar em lado nenhum.


Just saying...


J.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Impotência

Às vezes, sinto uma ligeira mágoa, que se aloja algures entre o coração e a garganta, e que juntamente com a angústia me infestam a cabeça de pensamentos mais obscuros.. a sério que eu me sinto agradecida pelas oportunidades que tenho tido e pelas pessoas que amo e me amam e tenho guardadas dentro de mim... mas tenho dias em que estou cansada de ser eu, da luta constante, de não poder baixar os braços, de estar sucessivamente a lidar com as adversidades da vida pessoal e familiar, tentando que não interfiram com a vida académica, e a martirizar-me sempre que não consigo separar as águas... há dias em que me canso de ser sempre forte e compreensiva com tudo, e me irrito, porque se fosse eu não fazia as coisas assim, e porque os recursos nunca chegam para nada mas eu tenho de compreender... só que há coisas que não consigo, porque se eu pudesse decidir alguma coisa não era assim... depois há um constante reprimir de emoções, de afirmações, de exaltações, de palavras que se acumulam na ponta da minha língua aguçada, que nem sempre deixo sair cá para fora... para o campo de batalha, porque depois canso-me e esgoto-me, e depois já não vou conseguir fazer as trezentas mil coisas que tenho para fazer... e logo a seguir vem o sentimento que mais odeio, que parece um capítulo interminável na minha vida, o de impotência... A sério que se eu pudesse acelerar o tempo o fazia para poder ir trabalhar e sentir que estou a fazer algo de útil e significativo pelos outros, pela família... por mim.
A impotência num cenário forçosamente inalterável é perturbadora, silenciosamente dolorosa, como uma câmara de pânico onde gritamos e só se houve o silêncio imperturbável do nada... eu tento que os meus dias sejam recheados de pequenos desafios comigo mesma, para conseguir fazer isto, aquilo e o outro, e ainda negoceio de mim para mim, que se me portar bem ainda posso ler um bocadinho de um livro, espreitar um filme, ou um episódio de uma série... vou compensando as falhas com esforços maiores noutros dias e a coisa lá corre bem e depois, algures no meio dessa corrida, aparece um muro vindo do nada, e esbarro a 100 Km/h contra ele, e vem a dor, a revolta e a indignação... e quando nada mais se sente, permanece a impotência...

Às vezes, gostava de acreditar mais um bocadinho, sonhar mais um bocadinho e até sorrir mais, como se acreditasse que de facto as coisas vão melhorar.

Impotente mas em luta... porque em tempo de guerra não se limpam armas.

J.