sábado, 21 de janeiro de 2012

Bagagem Emocional...

"Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar."

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'


Uma vez li um texto deste autor, e senti-o pousar em mim como uma pluma, que me servia como se tivesse sido desenhada para mim, falava de luto, de perdas e de memórias, e diz-nos que quando um amor acaba é necessário fazer o luto, e que nos podem dizer para distrair a cabeça, para não pensar mais nisso, para arranjar outro, para seguir em frente... mas a verdade é que nada se ultrapassa sem que se enfrente essa dor primeiro, e sem paninhos quentes ou meias verdades, é preciso ficar triste, chorar se preciso, e aceitar a dor da saudade que fica, porque se não há saudade não havia amor, e se não se sente a saudade havendo amor é porque ainda não tomámos consciência da distância que nos separa... Sabido isto, temos que guardar o bom, saborear o que ficou de melhor... e tentar deixar o mau numa caixinha cerrada da arrecadação, e ficar com aquelas lições que as partes más nos deixaram, colocar em post its bem reluzentes para não esquecermos, para não voltarmos a cometer os mesmos erros... mas se há coisa que me convenci nestes dias é que temos de saber cortar as amarras, não podemos dizer que esquecemos o passado, que está ultrapassado, mas irmos deixando uma pedrinha aqui e outra ali para encontrar o caminho de volta... Não é assim que funciona, sempre me orgulhei de ser uma realista, por vezes passo por fria e calculista, mas a verdade é que sou prática e tento ser o mais racional possível, e a verdade é que quando não nos conseguimos decidir acerca do que sentimos e as dúvidas permanecem durante demasiado tempo, deixam de ser dúvidas, e se calhar, estamos simplesmente a procrastinar uma decisão que já deveríamos ter tomado, mas não nos chegou a coragem para tal... Numa onda de arrumações, e depois de tanto ler sobre bagagem emocional, decidi arrumar a minha, colocando cada pessoa no seu devido lugar, mas ainda assim, há sempre aquelas que teimam em não encaixar em lado nenhum.


Just saying...


J.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Impotência

Às vezes, sinto uma ligeira mágoa, que se aloja algures entre o coração e a garganta, e que juntamente com a angústia me infestam a cabeça de pensamentos mais obscuros.. a sério que eu me sinto agradecida pelas oportunidades que tenho tido e pelas pessoas que amo e me amam e tenho guardadas dentro de mim... mas tenho dias em que estou cansada de ser eu, da luta constante, de não poder baixar os braços, de estar sucessivamente a lidar com as adversidades da vida pessoal e familiar, tentando que não interfiram com a vida académica, e a martirizar-me sempre que não consigo separar as águas... há dias em que me canso de ser sempre forte e compreensiva com tudo, e me irrito, porque se fosse eu não fazia as coisas assim, e porque os recursos nunca chegam para nada mas eu tenho de compreender... só que há coisas que não consigo, porque se eu pudesse decidir alguma coisa não era assim... depois há um constante reprimir de emoções, de afirmações, de exaltações, de palavras que se acumulam na ponta da minha língua aguçada, que nem sempre deixo sair cá para fora... para o campo de batalha, porque depois canso-me e esgoto-me, e depois já não vou conseguir fazer as trezentas mil coisas que tenho para fazer... e logo a seguir vem o sentimento que mais odeio, que parece um capítulo interminável na minha vida, o de impotência... A sério que se eu pudesse acelerar o tempo o fazia para poder ir trabalhar e sentir que estou a fazer algo de útil e significativo pelos outros, pela família... por mim.
A impotência num cenário forçosamente inalterável é perturbadora, silenciosamente dolorosa, como uma câmara de pânico onde gritamos e só se houve o silêncio imperturbável do nada... eu tento que os meus dias sejam recheados de pequenos desafios comigo mesma, para conseguir fazer isto, aquilo e o outro, e ainda negoceio de mim para mim, que se me portar bem ainda posso ler um bocadinho de um livro, espreitar um filme, ou um episódio de uma série... vou compensando as falhas com esforços maiores noutros dias e a coisa lá corre bem e depois, algures no meio dessa corrida, aparece um muro vindo do nada, e esbarro a 100 Km/h contra ele, e vem a dor, a revolta e a indignação... e quando nada mais se sente, permanece a impotência...

Às vezes, gostava de acreditar mais um bocadinho, sonhar mais um bocadinho e até sorrir mais, como se acreditasse que de facto as coisas vão melhorar.

Impotente mas em luta... porque em tempo de guerra não se limpam armas.

J.