Às vezes, toma conta de mim uma melancolia desgastante, sinto-me ficar pesada, vagarosa... e depois chateio-me comigo e com o mundo, e não quero estar nele, não quero estar com as pessoas, nem sozinha, nem aqui, queria estar num qualquer universo paralelo onde não soubesse onde estava, nem sabia o que era estar, onde não tivesse noção de tempo, ou de continuidade, ou de prazos ou metas... e ficava por ali no limbo, vagueando como uma folha de outono como tantas outras que vejo cair e revoltearem-se antes de chegar ao chão, no meu caminho para as aulas... mas tinha de ser um sítio onde o tempo não passasse, e eu ficasse suspensa nesse instante, para este mundo... queria sair de mim, queria parar de pensar, de me questionar, de me criticar, de doer, de sentir... queria só parar.
Um professor meu disse-me que eu não sei se o meu passado é real, que são meros fragmentos de memória que podem bem estar errados, porque a nossa memória é muito falível.. no início chocou-me um pouco, é o meu passado, fez de mim o que sou e não é tão belo quanto isso, fez sofrer e chorar e ainda dói às vezes, em laivos de recordação que se apoderam de mim... mas se são a minha verdade pouco importa se foram ou não reais, pois se são a minha história e aquilo que conheço de mim, ninguém me poderia dar uma verdade maior...
Desatino com o que se passa à minha volta, fico a resmungar sozinha como um velho do restelo, depois ralho comigo por me importar tanto pois se o mal não é meu, e se os meus tenho-os de sobra, para quê o desânimo... mas é inevitável, a nossa vida é um conjunto de sistemas dos quais não nos podemos desenraizar, e fazemos parte de toda a sua dinâmica, que nos atira ora lá para cima, ora para baixo, como uma montanha russa, e mesmo quando nos sentimos em baixo e achamos que não conseguimos fazer nada, temos de confiar nas probabilidades, focar-mo-nos nos nossos anteriores sucessos e acreditar que conseguimos ainda mais no futuro... e precisamos das pessoas e do todo em que estamos, porque não somos quase nada sozinhos... E o que de melhor tem o mundo senão as pessoas?... Dou-lhes umas tréguas, e sorrio outra vez, quando me cega o sol de uma tarde quente de Outono, inesperada... pois se até no Outono ainda há sol, não haverá esperança nos dias cinzentos e enublados que nos tomam os braços? Talvez me sinta mais leve amanhã..
J.

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