quinta-feira, 14 de julho de 2011

Ruminações psicológicas...

"Os acontecimentos tinham ampliado a sua inteligência naturalmente estreita. A imensa ironia das coisas tinha passado na sua alma e a tornara fácil, sorridente e leve." France, Anatole


Há inumeras coisas na vida que nos fazem questionar, um bom filme, um bom livro, um pensamento, uma citação... e damos por nós a por toda a nossa vida em retrospectiva, o que fizemos nós de relevante? quantas vezes colocámos as necessidades dos outros à frente das nossas, quantas vezes não o fizemos? o que é que conta para o que quer que seja, quem nos importa? Será que fizemos as escolhas certas? porque é que as coisas tinham de ser assim? porque é que isto me aconteceu logo a mim? Lutamos porquê? e ganhamos? e quando ganhamos o que perdemos?
...Costumava considerar-me uma espécie de justiceira, sempre em busca da justiça pelos oprimidos enquanto libertava a minha angustia e as minhas frustrações, de forma geralmente fria e objectiva, ou verbalmente agressiva... Deparei-me com um mar de injustiças, e quedei-me, com um balde de brincar na mão... a imaginar como esvasiar aquele mar... e depois digamos que salvei, metaforicamente claro, uma pessoa desse mar, e senti-me rejuvenescer, e fui salvando uma e outra que lá surgiam à deriva... Percebi que o nosso valor não nasce geralmente das grandes coisas, mas das pequenas, e que é nessas que começa o caminho... Os acontecimentos, grande parte deles, estão fora do nosso controlo, as circunstancias que moldam e envolvem os momentos, são o cenário com o qual temos de saber lidar, seja qual for o desfecho da cena, podemos chorar tudo e queixarmo-nos quanto quisermos... mas o filme não pára de correr, e aí está a ironia da vida, que nos leva por vezes a desfechos inimagináveis, uns bons, outros maus...
Saboreio agora o prazer de tudo com um paladar minucioso e preciso, desde as mais pequenas grainhas, aos maiores nacos, desde os primeiros pingos de chuva de Setembro e o cheiro a terra molhada, aos ultimos raios de sol quentes de verao, adoro cada livro que começo e a sensaçção de quando o acabo, adoro o principio e o fim de tudo, adoro o outro lado fresco da almofada, adoro a cama quente no inverno, adoro beber chá enquanto leio o jornal e ninguém sabe que eu estou ali, adoro quando chego a um sitio novo e vejo algo diferente, adoro o cheiro a torradas e o cheiro do banho, adoro vestir o primeiro pijama no inverno, adoro a sensação da roupa quente, gosto dos sorrisos verdadeiros, gosto de um olhar apaixonado, gosto que me façam sentir única, gosto de fazer quem gosto sorrir, gosto do ar de surpresa nas pessoas, gosto de tanta coisa que me faz sorrir sozinha... que me dá aquele quentinho na barriga, e quando a minha vida parece presa por um fio de lã podre, fecho os olhos... seguro-me e começo por imaginar a chuva e vou por aí fora, visitando todas as recordações de que tanto gosto, e fico a aguardar, apertadinha o que está para vir... porque adoro surpresas...


Um hino às coisas boas da vida, para que encontrem as vossas pérolas, e as revivam sempre que o dia vos parecer cinzento... porque as lembranças são eternas, pelo menos todas as que temos, as que desaparecem deixam de ser lembranças...



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