quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Desabafos depois da meia noite.

Finalmente chegou o tão aguardado e temido descanso... estou naquele limbo que se entra quando se acaba a tese e os afazeres académicos e se aguarda o momento para começar a fase seguinte... a tão temida inactividade chegou, e abriu as caixas e caixinhas guardadas no fundinho das minhas prioridades e longe da meu foco atencional. Guardei tudo em caixinhas, umas para as recordações, outras para os bilhetes dos museus, outra para os talões, outra para medicamentos, outra para as coisas que me dão que eu não sei usar (girl's stuff), outra para coisas que não sei quando vou precisar, outra para as coisas que não sei onde meter, outra para os sentimentos... porque será que esta tende a nunca ficar bem fechada, e como me chateia ver as coisas fora de sitio, ainda que seja apenas uma insignificante "tampa" de uma caixa...
Com algum tempo livre, surge tempo para pensar naquilo que por vezes preferimos não ter tempo para pensar... estou portanto numa fase de revisitar notas mentais e preocupações antigas, outras mais recentes, e fazer a correspondência com os tais sentimentos que guardei na outra caixa, forrada com um estranho papel de embrulho metalizado de há uns quantos anos atrás, que hoje já nem deve ser permitido por fazer mal aos olhos das crianças...
                               revisito-me de tempos a tempos, sei o quanto mudei e ao mesmo tempo tudo aquilo que carrego comigo imperturbável, e nesses encontros, fico deslumbrada com muito do que alcancei, e desiludida com tudo o que não tive, tudo o que não guardei e queria para mim... sinto a saudade das sensações sadias que há muito não me surpreendem, não é dos momentos, esses recordo-os e guardo-os com ternura e afeição, mas das sensações... do calor, das angústias, das incertezas, da irritação, os risos nervosos, o estômago insaciado, do prazer de todas as primeiras vezes, desde que se conhece até se perder tudo... sinto falta de sentir intensamente seja o que seja, sinto-me tantas vezes anestesiada no passar dos dias, numa dormência melancólica que não se espanta com o bater dos pés... e dou por mim a contar as horas que faltam para passar não sei bem o quê, para ser outro dia e já não ser o mesmo em que me dei conta que não sentia nada e me esquecer disso outra vez quando me deito. Antes a tristeza que a melancolia, pois ao menos as lágrimas dão-lhe sentido ou conforto, e na ausência delas, tudo parece apenas uma paisagem árida e sem sol.

Expectante que melhores dias virão sem acreditar neles, para não acreditar demais ou esperar o que não vem.

J.


Sem comentários: