quinta-feira, 10 de abril de 2014

A doçura da Inquietação

Quando comecei a escrever este texto, encontrei um outro ainda nos rascunhos deste blog, que falava da minha insatisfação com a vida, a rotina e a apatia emocional em que me encontrava. Publiquei (é o anterior a este) porque achei delicioso ver agora o contraste do que em tão pouco tempo mudou na minha vida... 

Escrevi muitas vezes para aliviar esta falta de sentir, este entorpecimento trôpego que tomava conta de todos os meus poros, dos meus músculos e dos meus sentidos... escrevi sobre não querer escrever, sobre estar farta desta apatia dolorosa em que se atracou a minha vida, e que me fez acreditar que nada havia a esperar, que aquela pessoa desejada era apenas uma miragem fumegante, apenas um sonho idílico à distância de um arco íris...

E assim, o destino trocou-me as voltas e sem te procurar encontrei-te. Sem saber bem como encantaste-me nalgum canto subtil que não sei se ouvi, mas tocou-me de leve... dei por mim a rir de dentro para fora, por vezes entre tremores e apertos de estômago numa insegurança pouco familiar, a pensar no que éramos nós, o que era aquilo que nos estava a acontecer. Olhaste-me cá dentro, e quando dei por ti a espreitar-me não me assustei, não te afugentei nem tive vontade de o fazer... desconcertou-me esse teu sorriso de canto que me fizeste depois de me dizer algo bonito, foste tão verdadeiro nas palavras mais simples que fizeste tremer o meu chão. Voltei a sentir, depois de anos, aquele frio no estômago que eu julgava perdido algures numa paixão de adolescente... os pensamentos de quando te voltaria a ver, as mensagens escritas e apagadas vezes sem conta, até o rubor nas faces por me imaginar a beijar-te... E o medo!! O medo de que nada disto fosse real, que tudo estivesse a acontecer na minha cabeça porque na verdade só tinhas sido simpático comigo, só me tinhas falado com humor entre piadas e elogios malandros, e um ou outro toque possivelmente acidental... E se me matasses estas borboletas na barriga antes de nascerem e esta ânsia de te tocar sem o ter feito? Porque sabia já o teu cheiro sem te conhecer ainda os traços ou vivências? Que sabia eu de ti afinal, senão que eras um homem bem humorado, que gostava de alguma aventura e convívio...

Mas depois ficámos sós... um com o outro, e o mundo estava cheio! Levaste-me a um sítio alto com uma paisagem deslumbrante e disseste-me que estava tudo perfeito, e eu senti-te assim. E depois achaste que não merecias isto tudo, e eu sabia que fazíamos sentido porque havia uma certeza em mim que nunca tinha experienciado, não desta forma, nunca tinha ficado assim perdida por alguém sem saber explicar como... Nunca tinha sido para mim tão claro o que queria, sem racionalizações extremas, sem iniciar o meu medidor de riscos, o emulador de cenários ou o bloqueador de sentimentos... não tive tempo nem vontade para activar qualquer um deles. Olhei-te nos olhos brilhantes a marejar, e soube que fazíamos sentido, independentemente de todos os problemas que pudéssemos ter antes de estarmos juntos...  Foi como olhar-te do outro lado da falésia e ter a certeza que encontrarias o caminho até mim. E vieste. Levantaste-me no ar e pairámos durante uma imensidão de tempo que não cabe em palavras, até o corpo todo ficar dormente, e entregámos-nos a uma paixão febril que devemos ter roubado a um casal de adolescentes qualquer, já que não sabíamos sentir assim...perguntas-me "como é que me foste acontecer" e eu não sei responder, não sei como é que os nossos caminhos não se tinham cruzado antes, como é que vivemos na mesma cidade e temos tantos amigos em comum e íamos aos mesmos sítios e não nos cruzámos antes...
Isso faz-me pensar que há um desígnio para nós, que foi só agora porque tinha de ser e que nós somos aquela excepção que se cruza no timing certo, naquela fracção de tempo perfeita que nos fez ficar presos um ao outro sem nos termos ainda tocado.... o nosso beijo tem o sabor mais indescritível que alguma vez senti, e o meu ombro encaixa bem no contorno do teu braço, quando caminhamos enlaçados na rua, e a minha boca fica suficientemente perto do teu ouvido para te segredar o quanto te gosto sem ter que me esticar, e os teus braços são suficientemente grandes para abarcar todo o meu mundo... e é por tudo isso que temos a medida certa um para outro, como que tirada por um alfaiate, que não poderia ter feito um fato mais perfeito...

Num destes dias dei por mim a olhar para ti e a doer-me cá dentro sem saber porquê... um aperto misturado com um desconforto pulsante que não consigo explicar, e assustei-me um bocadinho... apertei-te com mais força... percebi que é este já não saber viver sem ti que me aperta este coração que se sente perdido no meio deste pega e larga dos nossos dias e das nossas vidas que não nos permitem estar sempre juntos... e ele lá bate desorientado e apertadinho, ansiando por ti, por vezes entre palpitações descompassadas, sempre que sabe que vens!

Sinto uma enorme inquietação, às vezes sinto que não respiro nos intervalos entre deixar-te e reencontrar-te de novo. Estás-me na pele, entranhaste-te em mim de uma forma tão natural que parece ter sido sempre assim... sempre que me deito no teu peito o meu mundo pára e fica suspenso no teu, falamos durante horas e olhamos-nos durante momentos que nos fogem por entre os ponteiros do relógio que teimam em não parar quando estamos juntos. És a melhor parte dos meus dias, és aquilo que me consome e que me dá vida, que me acende e me acalma e dá sentido a tudo o que procuro, és tudo o que faltava e mais do que eu achava possível encontrar.

Às vezes ainda não sei se és real... mas se não fores, deixa-me acreditar durante mais um bocadinho, e saborear esta doce inquietação.



J.


Sem comentários: