domingo, 10 de abril de 2011

Lugares com Ecos do Passado


Tanto ou mais que as pessoas, os lugares vivem e morrem. Com
uma diferença: mesmo se já mortos, os lugares retêm a vida que os animou. No silêncio, sentimos-lhes os ouvidos vigilantes ou o rumor infatigável dos ecos ensurdecidos.

Fernando Namora, in 'Jornal sem Data'


Andava um pouco desligada da bloggolandia... e hoje, pensei que tinha que escrever algo, porque por vezes, quando escrevo, diminuem-me as incertezas, sempre que desembaraço as linhas da minha vida escrevendo-as... fui ler o que se passava também noutras vidas que gosto de acompanhar, e senti uma pontada forte, como que uma chicotada nas palavras de um texto sincero, que ficou a assombrar-me, e de um pensamento que partilho acima, que fez ecoar o meu passado... Tenho andado numa fase de não questionamento, de deixar andar a vida e ver no que dá, mas cada vez me convenço mais de que sofro de uma qualquer patologia, que me impede de separar o passado do presente, tornando-o num ciclo de revisitação que faço de tempos a tempos e me leva a questionar sobre o que quero recuperar e deixar por lá... como eu queria conseguir fazer dele um livro de história, marcar cronologicamente os momentos relevantes, colocar as fotos das pessoas importantes que nele participaram, com uma pequena descrição dos seus feitos, e ao lado as datas, com um inicio e um fim, no continuum que é a minha historia... mas não posso fazê-lo, pois não sei as datas, e não posso saber hoje se o mais importante dessa historia já foi contado ou ainda está a acontecer... é como estar no meio do conto da Alice no País das Maravilhas, numa inconstância permanente, de subidas e descidas, e de comportamentos estranhos e intrigantes que não percebo, e não faço a mínima ideia de onde será o fim...

As nossas recordações somos nós, somos aquilo que elas fizeram de nós, mas há uma altura em que devemos delinear o que nos separa delas, deixá-las onde pertencem, pois sempre que as procuramos de novo, seguramos com firmeza essa força que nos trazem, e achamos que é isso que precisamos, e questionamo-nos outra vez... Sinto que chegou o momento de deixar o passado, de deixar tudo o que adoro nele e me trás confiança e vislumbres de felicidade, que por vezes me parecem não mais do que hologramas de uma recordação feliz... não mais o conforto, a saudade, o reencontro, a dependência emocional subliminar nas palavras de sustentação... o never let go e o medo da inexistência do sentimento... Posso desconhecer completamente o que é isto que sinto, mas se não cortar todas as amarras nunca o saberei... e se alguém se atravessar de novo no meu caminho, será o futuro, e o passado ficará retido nas memórias do meu livro de história... onde ficarão também os ecos ensurdecedores do passado.

The End.

J.

Retirada de http://www.lucianabveit.com/br

1 comentário:

Kenny disse...

Uma pontada forte? oO